O seu amigo contava a aventura com gosto, malícia, e talvez até um pouco de maldade:
- Estava eu e ele no cinema e começamos a nos beijar. Nos beijamos a valer, foi um escândalo.
Deve ter sido mesmo, afinal, não é sempre que o único cinema de uma cidade provinciana recebe um caliente casal gay. E ele continuou:
- Algumas pessoas, dava para perceber, comentavam e tudo mais. Aí me lembrei de algo que eu havia comprado antes de entrar no cinema: “O chocolate! Você está com o chocolate, aí?”, perguntei a ele. Ele logo sacou o chocolate, abriu, deu uma bela mordida e nos beijamos. Foi ótimo.
Beijo de chocolate. Ficou matutando isso por um tempo. Realmente devia ser bacana, afinal, era chocolate, infalível. Pensou em fazer isso com a namoradinha. Namoradinha não, era primeiro namoro, namoro sério, dos 15 anos, com aliança, apresentação aos pais e tudo mais. E agora, torcia ele, com direito a beijo de chocolate.
Seguia rumo à casa da amada. Por onde passava, procura por algum lugar que vendesse chocolate. Queria meio amargo ou ao leite, mas não achava nada disso. Pudera, era domingo e a os lugares estavam fechados.
Menos um.
Um barzinho, simples de tudo, mas com um cantinho reservado para as besteiras, como salgadinhos, doces, biscoitos e afins. Foi logo procurar o chocolate, entretanto, o único que achou foi o Prestígio, aquele que mais é uma barra de coco do que um chocolate. Enfim, havia de servir.
Colocou o doce no bolso e se foi. Chegou na namorada e, como de costume, ficaram a conversar no sofá pelo dia, assistiram à TV, almoçaram e jantaram comida de mãe. Ele estava guardando o chocolate para o momento certo, mas parecia que não chegava nunca.
Na hora de ir embora, como sabia que não se perdoaria se não desse ou ganhasse o beijo de chocolate, sacou a embalagem de Prestígio, deformada pelo calor do domingo e do bolso, e disse:
- Ah, eu tenho um chocolate. Quer um pedaço?
Ela entendeu tudo. Acho bobo, mas singelo até. Deu uma mordida no Prestígio e, em seguida, deu um selinho sabor coco nele.
Por um momento ele se sentiu bobo, mas viu que, no fundo, o que aconteceu foi algo singelo. E se foi, satisfeito, com o gostinho de coco nos lábios.
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