quinta-feira, 3 de julho de 2008

Asseado

O pequeno garoto era motivo de chacota na escola. Ele não sabia, mas era, faziam tudo por trás, aqueles falsos. Mas ele até que dava motivo, explicando, e não justificando, é claro.

Acontece que o menino todo santo dia (e os dias não santos, diabólicos, satânicos, divinos, históricos, qualquer dia) ia com a mesma blusa xadrez para a aula. Era um xadrez bonito, marrom com vermelho, de algodão, que já fora do pai um dia, e feito de uma forma resistente, diferente das roupas de hoje.

Enfim, dia após dia, lá estava ele com a blusa xadrez. Uma época até o apelidaram de “tabuleiro”, se é que me entende. Sem ele saber é claro. Apesar de sua suposta falta de higiene, indo todos os dias com a mesma blusa para o colégio, ele era uma boa pessoa, bonita e tudo mais. O pensamento de nojeira em relação àquela blusa afastou algumas pessoas, meninos, meninas, amigos e até pretendentes.

Certo dia, ouviu algumas gozações a seu respeito por trás do muro, vindo de algumas pessoas que ele até julgava legais. “É um porco. Aquela blusa deve ser branca. Está marrom de sujeira” ou “a crosta que criou na blusa deve ter colado na pele dele. Por isso que vem sempre com ela”, ou ainda “o cérebro dele fica na blusa. Na verdade, é um alienígena que se apossou de um corpo humano” eram alguns dos sarros criados pelos colegas.

Ele baixou a cabeça e saiu triste por ser de uma família humilde e por ter somente aquela blusa. E exatamente por ser a sua única blusa, que já fora do pai, sua mãe fazia questão de lavá-la e secá-la atrás da geladeira todo dia, sem falhar sequer um dia, sendo ele santo ou não.

Um comentário:

Anômima disse...
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