sexta-feira, 13 de novembro de 2009

E volta o cão arrependido...

O amor estava no ar naquela tarde quente de setembro. O casal, mais apaixonado do que nunca, saiu de casa para um passeio de trem. As mãos dadas suavam, mas o amor e a vontade de ficarem  próximos eram maiores do que qualquer frescura.

Andavam e conversavam assuntos diversos pelo caminho. A distração com o mundo ao redor e a concentração que davam uma para o outro fizeram com que o casal não percebesse uma coisa: os dois estavam sendo seguidos.

Nos intervalos do papo, o rapaz ouviu uns passos logo atrás. Olhou com o canto do olho esquerdo e percebeu que tinham companhia: um simpático cachorro vira-lata, sujo e encardido, que os seguira desde o início do percurso.

- Amor, tem um cachorro nos seguindo.
- Verdade. Bom, uma hora ele desiste.

Desiste nada. Foi seguindo o casal. Ora ele seguia, ora parecia ser seguido, pois tomava as rédeas do passeio e ia na frente, mas sempre olhando para trás, como se quisesse checar se estava tudo certo.

- Puxa, mas se ele nos seguir até a estação de trem? Lá, animal não pode entrar, a não ser cão-guia.
- Pois é. Mas acho que ele não vai até lá, não.

Pois foi. Havia momentos em que o casal tentou despistá-lo. Fez que ia pra esquerda, mas virou à direita. Atento, o cachorro não sumiu de vista.

Certa hora, o cachorro deu um gás e avançou muitos metros. Correu.

- Oba, ele se foi.

Não deu nem dois minutos e ele voltou, todo serelepe e ofegante.

- A estação é logo ali. E agora? O cachorro continua nos seguindo, tadinho.
- É mesmo, agora não sei.

Na estação de trem, como se fosse uma surpresa, dezenas de pessoas saíram, pois um trem havia acabado de chegar. Pessoas suadas, feias e estressadas passavam apressadamente pelas catracas, fazendo um barulho totalmente desagradável.

Todo esse movimento assustou o cachorrinho, que, com o rabo entre as pernas, parou de acompanhar o casal e só os seguiu com os olhos. As pessoas feias e emburrecidas avançaram, o que o assustou ainda mais e o fez voltar.

O casal ficou sem saber se o cachorrinho ficou bem. Ficaram apenas torcendo para que ele conseguisse voltar pelo mesmo caminho que outrora fizeram a três.

2 comentários:

Por Cris Tavelin disse...

Eu entraria correndo com o cachorro no colo dentro do trem e levava ele pra casa :)

ótimo texto!
bjs

Elvis de Moura disse...

Tenho uma teoria; Eu chamo de "As coisas relacionadas"; qualquer dia explico a você.
rs...sonhei com cachorros essa noite.
O texto é muito bom, o título é insuperável!!