sábado, 29 de janeiro de 2011

Mizuno

Era uma família humilde e trabalhadora. Colocando as coisas em ordem, a prosperidade viria. Aos poucos, mas viria sim.

Com muitos irmãos para comprar roupa, a moda nunca foi uma das prioridades. Os de idade parecida, inclusive, se vestiam iguais.

- Vamos comprar um Mizuno para cada um. - disse a mãe.

Ela parecia empolgada. Pegou os filhos e foi para um loja de tênis.

A loja era grande, muitas marcas e variedades. Mas parecia clara a regra:

- Escolham um Mizuno.

Sem entender, cada um escolheu um modelo de Mizuno. Seria algum tipo de parceria ou desconto? Por que exatamente Mizuno?

Tinha o de 15 anos. Mizuno não fazia seu tipo, mas tudo bem. Escolheu um azul, grande.

***

Chegou na escola, o pessoal elogiou. Mas ficou sabendo que, com o valor do mesmo, compraria de dois a três pares de Allstar.

***

- Mãe. por que tinha que ser Mizuno?

- Não gostou, filho?

- Gostei sim, mãe. Mas só para saber. Tinha que ser?

- Ah, era meu sonho os filhos andarem com um par de tênis bom cada, da moda.

- Então podia ter escolhido outro?

- Mizuno não é o melhor?

- Ah, é bom sim, mas... bom, tudo bem, era só pra saber.

O tênis durou uns bons meses. Em seguida, teve seu primeiro Allstar. Que durou bem menos, inclusive.

3 comentários:

Elvis de Moura disse...

Pra uma mudança de valores é preciso acima de tudo questionar e saber. Texto muito bem escrito e com uma representação oral muito bem construída. A oralidade na escrita é um fator muito importante, e a forma com você escreveu deixou isso bem claro.

Zelenski disse...

Nossa, valeu pelas palavras, Elvis :)

Samuel disse...

Quando Nietzsche disse "Deus está morto" ele não quiz dizer que a religião acabou, mas sim que a religiosidade acabou. Não se pergunta mais para Deus se você pode sair de casa, pergunta-se para sua carteira e seu cartão de crédito. O capitalismo tornou o dinheiro o novo Deus, o sinônimo de felicidade. Assim, criamos instituições, marcas e produtos e nos tornamos escravos deles. Os objetos na vitrine mandam você entrar, olhar e, por um prazer patológico, consumir. A isso Marx chamou de alienação social. Mais uma vez você sucita ótimas questões a serem repensadas. Parabéns Z.