quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Quando nada dá certo

Quem pega trem sabe o caos que é. E não me refiro à situação precária de de estações e carros, e, sim, às próprias pessoas. Empurra-empurra, caras fechadas, mau humor, gente com odores ruins, celulares em viva-voz tocando funk ou pagode, correria para conseguir lugares... é, o inferno é aqui. Creio que disso surgiu o ditado “Aqui se faz, aqui se paga”. “Um dia você terá que pegar trem” devia ser o dito.

Porém, nem toda correria é para ultrapassar alguém ou conseguir um assento. Por vezes, damos uma apressada apenas para conseguir entrar antes de fechar as portas. Mas tudo deve ser feito com o noção de tempo e espaço e, antes de tudo, com inteligência.

É, e a senhorinha não teve nenhuma dessas duas qualidades dia desses. Uma: o trem já havia dado o conhecido apito que significa “Opa! Estamos fechando a porta! Se não entrou, entre logo, se não saiu, o que espera, 'rapá'?!”, e ela nem ligou para dar aquela apertada no passo. Parecia passear.

Não deu outra. A porta começou a fechar e, somente então, a senhora correu. Correu, se enroscou na porta, o pé prendeu e no maior grito “Ai, minha nossa!”, capota. Mas capota com gosto dentro do trem. “Splaft!” foi o barulho. Lembrava uma panqueca em uma frigideira. Otimistas, os passageiros pensavam: “Por sorte, caiu dentro do trem. Imagina se perde a viagem, depois de tudo isso”.

Sorte? A senhorinha retomou o fôlego, limpou o vestido que sujara com o imundo chão que se encontrara intimamente há pouco, e sentou-se, ainda ofegante. Dá umas olhadas de norte a sul e pergunta para o rapaz ao lado:

- Esse é o que vai pra Francisco Morato, né?

- Não, não. Esse vai para Guaianases.

Ai a senhorinha soltou um outro “Ai, minha nossa”, só que mais sofrido do que o primeiro.

Nenhum comentário: