segunda-feira, 24 de março de 2008

Uma rápida história de amor

É engraçado como as coisas acontecem de forma rápida hoje em dia. O romantismo como se conhecia deixou de existir em sua essência. Mas como, na verdade, nada deixa de existir por completo, ainda encontramos vestígios de determinadas eras, como se segue no relato a seguir, que, no fundo, nem se trata de uma história de romantismo, e sim, da timidez e pensamentos de alguém, de todos, de uma nação ou de um grupo de pessoas e amigos nossos.

Tudo começa com o “era uma vez” no metrô do Brás. O rapaz em sua rotineira vida passava, voltando ou saindo da sua casa depois de um dia qualquer, de diversão ou trabalho, e percebe uma bela garota. Devia ter lá pelos seus 20, assim como ele. Ela tinha cabelos na altura do pescoço, olhos escuros, óculos de armação grossa, uma camisa xadrez e marrom e uma saia ou calça jeans, que ele não se lembrava direito qual era pelo fato dela ter uma bela tatuagem de alguma coisa na cintura, que tirou sua atenção. Ele estava de calças jeans, camiseta, tinha cabelos compridos mas nem tanto, olhos grandes e também escuros, dono de muitos pensamentos que não saem da sua cabeça, de forma alguma. Ele prefere que eles fiquem por lá mesmo.

Ele olha para ela e torce para que ela devolva o olhar. O esperado acontece. Por alguns milésimos de segundo, certo, mas acontece. Torce para que olhe de novo. Ele finge estar procurando algo pelos lados de lá, apenas como pretexto para olhar na direção dela. Ela o olha de novo, parece que sem querer. Não, não parecia, era sim sem querer, mas lhe fazia bem acreditar que não, que ela o notara. E, no fundo, o notara mesmo. De uma forma ou de outra, o notara.
Chega o trem e ambos entram. Os dois seguem em direção à Paraíso. O rapaz comumente segue sua viagem em pé, mas, como a moça sentara, ele havia de acompanhá-la. Não ao lado dela, mas em frente, ou no banco de trás, algo assim. Ainda torcia por trocas de olharem, que uma vez ou outra aconteciam.

Chega a estação Paraíso e passam a aguardar outro trem. Foi quando seu coração quase disparou, pois ela o olhou fixamente, por uns cinco segundos. Longos cinco segundos, ela estava ao lado dele, ele morreu de vontade de falar um “oi”, mas como o faria, o que ela responderia, se o achasse um panaca, paspalho? Mas tinha de falar algo, sabia que tinha.

Não falou. O trem chegou de novo e ambos entraram. Sem querer seus braços se encostaram e ele sentiu como era lisa a pele da moça, e um pouco gelada também. Deu vontade de abraçá-la para esquentá-la. Mas, como se sabe, ele não fez nada disso. Ambos desceram na mesma estação, subiram a escada rolante, um atrás do outro, o moço na frente, a senhorita atrás. Ele ainda fingiu olhar algo que não passava pelo seu lado, pois, quem sabe, ela pudesse gostar de seu rosto em perfil, ainda mais com sua barba por fazer. Não se sabe até hoje se ela gostou ou não de seu perfil.

A escada acabou e passaram as catracas. Ele a acompanhou até a saída que se dividia entre Augusta Centro e Augusta Jardins. Um foi por um e o outro pelo outro, e, com um tom de despedida no coração, mas com a consciência de que aquilo não estragaria de forma alguma seu dia, que começava ou terminava, acabou com toda essa história de amor expressa, expresso como seria o café que pediria na próxima esquina.

2 comentários:

Dani disse...

...então ele olhou para mim, mas, sei lá se olhou mesmo, se me achou parecida com alguém, com sua mãe, vizinha, prima, enfim. Tentie chamar atenção dele e quando ficamos lado a lado, olhei-o por alguns segundo e nada...nem um breve "oi", ou um pequeno sorriso no canto da boca, desisti. Ele me acompanhou até o metrô consolação e lá foi nossa despedida, e minha crise de conciência, preciso de um namorado, para não me apaixonar pelos metrôs da cidade...

Amanda Franco disse...

amores instanteneos de metro; bem paulistano isso!